Nunca, em tempo algum, um processo de transformação social ou uma revolução aconteceram sob uma única força gigante. Essas coisas nascem a partir de forças distribuídas e inspirando pequenos grupos próximos ou nem tanto assim, já que em muitos casos, por vezes sequer um grupo sabe da existência do outro até que o inusitado das conexões acontece e os pequenos se fazem reconhecidos no resultado de um grande impacto cultural, social, econômico e histórico. Mais recentemente, nesse emaranhado de conexões, a era digital, inegável na sua força, poder e significado, tem permitido – sob a dinâmica de um clique e o deslizar de uma tela a outra, a possibilidade de acesso ao mundo, em toda a sua complexidade e espetáculo – do horrendo à mais singela humanidade.
A Revista Harvard Business Review (Brasil), em sua edição de setembro trouxe um artigo muito interessante. Sob o título de ‘Compartilhar não é só para startups’, Rachel Botsman da Collaborative Lab e co-autora de ‘What’s Mine Is Yours: The Rise of Collaborative Consumption’, discorre sobre como grandes empresas, do porte da Marriott e General Eletric, tem aberto os olhos para uma nova realidade que ganha forças mundo afora, a colaboração – de espaços e ideias (e outras riquezas) e estão lançando mão disso como estratégia para desenvolvimento de produtos, aperfeiçoamento de processos gerenciais enfim, aplicação de novas maneiras de fazer negócios.
Sim, é bem possível que as empresas estejam compreendendo que os novos negócios exigem sim, processos cada vez mais eficientes de gestão, planejamento, controle e outras tantas ferramentas empresariais. Mas, é possível também que as forças das conexões digitais e a inserção das pessoas nos negócios, para além do papel de consumidoras passivas, estejam chamando os empreendedores à necessidade de desenvolverem empresas e negócios colaborativos, ou o que se tem chamado de economia colaborativa, o que estaria em harmonia com uma nova maneira de ver o mundo, de experimentá-lo, de vivê-lo, o que já se consolida, por exemplo, desde cidades com impecável infraestrutura urbana e livre disposição aos seus moradores, de todos os recursos necessários a uma vida decente e sem maiores preocupações, até lugares inóspitos, onde em tese, não haveria espaço para o mais simplório dos sonhos.
É daí, da colaboração, que o homem se refaz, reconstrói, renova, aperfeiçoa e se perpetua e portanto, seria impossível que uma mudança comportamental tão significativa, não ganhasse importância, também, no mundo dos negócios. O que se tem percebido ou melhor, admitido, é que:
No ser individualista a humanidade se faz rapidamente finita.
Negócios centrados em si mesmos entram num processo de paralisia, inanição e consequente desaparecimento.
Na colaboração, as forças se multiplicam.
Negócios vencedores se perpetuam em redes de parcerias que geram mútuo fortalecimento. E isso pode e deve começar com a partir das equipes interna, se estender aos fornecedores e ao público que adquire os produtos e serviços.
Hoje, olhando para os pequenos focos de revolução espalhados no que tem sido denominado de meia dúzia de loucos e inconsequentes “sonháticos”, que pensam colaborativamente, talvez o mundo normal ainda centrado no individualismo, veja apenas o inusitado, o desperdício de energia em um sonho imponderável ou que se aplique apenas aos grandes. Entretanto, aos que se permitem ser visionários, vale a pena remanejar esforços para se construir na empresa e negócios uma nova cultura, a da colaboração.
Veja um pouco da experiência da Marriot, apresentada no artigo acima citado:
“Há dois anos Peggy Fang Roe observou um fenômeno frustrante. Como chefe de vendas e diretora de marketing da divisão Ásias e Pacífico da Marriot, Fang Roe sabia que os salões de conferência do hotel eram subutilizados – no entanto, muitas vezes via hóspedes andando pelos saguões ou restaurantes à procura de um lugar sossegado para trabalhar. “Eu pensei, é um absurdo que nossos hóspedes não tenham acesso aos espaços ociosos do hotel”, observava. Então, por sua iniciativa, em 2012 a Marriot fez uma parceria com a LiquiSpace, ima plataforma online que as pessoas podem usar para reservar rapidamente locais flexíveis para trabalhar por hora ou por dia, e a ideia foi testada em 40 hóteis em Washington, DC. e em São Francisco. “Não eram só hóspedes de hotéis que reservavam espaços, mas também pessoas locais – de advogados e profissionais autônomos a consultores”, comenta Fang Roe”.
A colaboração, de outro ponto, pode se dar na inserção das suas equipes com maior liberdade para criar produtos, recebendo suporte e aporte da empresa para que a ideia ganhe corpo. Ou ainda um pouco mais ousada, como algumas empresas já tem feito, fomentando o projeto de empreendedorismo dos colaboradores.
Economia Colaborativa, conceitua-se portanto, segundo Rachel Bostman, como “um sistema que explora valores ociosos de todos os tipos de ativo por meio de modelos e negócios que permitem maior eficiência e acesso. cada vez mais, esses ativos incluem atributos como habilidades, utilidades e tempo”. E o desafio de quem empreende ou gerencia negócios é descobrir ou encontrar oportunidade de colaboração.
Que tal fazer uma análise um pouco mais detida sobre a sua estrutura de negócio, seus planos e prospecções e repensá-los no contexto dessa nova realidade, uma economia colaborativa e como a sua empresa pode se inserir nessa nova dinâmica para melhorar seus processos e desenvolver-se melhor?